terça-feira, 31 de agosto de 2010

10 Frames: Sin City - 2005, Rodriguez.

Contraluz - 2010, Fragata.




Há coisa de um mês, Contraluz deu que falar por ser o primeiro filme de um realizador português, Fernando Fragata, com alguns actores portugueses – nomeadamente Joaquim de Almeida e Evelina Pereira a assumirem papéis com algum destaque – realizado em Hollywood.

Honestamente, acho que é um filme mau. Se existiram pessoas que gostaram e identificaram-se com o filme? Creio que sim. Se existem pessoas que gostaram do filme só porque tem costela portuguesa? Também, mas não vou muito nessa onda, no único sentido de apoiar o cinema português (nem sei até que ponto é que este filme se pode considerar português, mas, sinceramente, nem me interessa). Existem filmes portugueses bastante bons, sim: O Alice, do Marco Martins de 2005, é um filme que retrata bastante bem o luto e o desespero que um pai sente quando se depara com o desaparecimento da sua filha. Agora o Contraluz? Peço desculpa se ofender alguém, mas é de longe o pior filme que vi nos cinemas nos últimos... 3 anos.

Aplaudo o esforço de todos os envolvidos na produção do filme, pelas dificuldades que enfrentaram e ultrapassaram para o concretizar, mas não sou definitivamente um fã do filme. É uma trapalhada imensa.

A mensagem do filme? Acho que é algo relacionado com o facto de existir a necessidade de nos ajudarmos uns aos outros, para tornar o mundo melhor, com o facto de termos que aproveitar todos os momentos  que a vida nos dá, e com a forma de como as coincidências são uma constante da vida, e acabam por ser aquilo que nos une. Esta última mensagem é executada de uma maneira completamente desleixada. O argumento parece ter sido escrito em cima do joelho e com a visão de “quantas mais coincidências existirem melhor!”, o que se traduz num conjunto de acções totalmente forçadas, ridículas e não plausíveis.

Contraluz tenta evocar aquilo que foi explorado em filmes como o Shortcuts (1993, Altman), Magnolia (1999, Anderson) e Crash (2005, Haggis), mas falha completamente pela sua falta de tacto e subtileza. Quando o argumento, a própria espinha do filme, falha neste "género" então é meio caminho andado para um falhanço de proporções épicas. Contudo, e face a um argumento mais fragilizado, o trabalho dos actores poderia salvá-lo de alguma forma, e isto também não acontece no Contraluz: Tirando o Joaquim de Almeida que se safa nos primeiros 15 minutos do filme, os restantes actores encontram-se no mesmo patamar que os actores dos Morangos Com Açúcar e simplesmente limitam-se a ler as falas (A pessoa que escolheu a actriz para interpretar a mãe da rapariga que encontra o telemóvel nunca mais deveria trabalhar nesta área).

De qualquer forma, Contraluz enquanto drama falha redondamente, mas à medida que o filme avançava, creio que resultava enquanto comédia,



Nota: 2/10. Porque sinto-me generoso hoje!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Emmys 2010.

Pelo 3º ano consecutivo, MAD MEN vence o Emmy para melhor Série Dramática. Well Done!

 

domingo, 29 de agosto de 2010

A minha colecção de DVDs #1: Bonnie and Clyde - 1967, Penn.



Decidi iniciar uma pequena rubrica onde irei dar os meus breves pensamentos sobre os filmes que constituem a minha colecção de DVDs (recentemente alargada com as compras do Taxi Driver – Já visto, filme fenomenal -, e dos ainda por ver Easy Rider e Blade Runner. Este último é o que me suscita um maior interesse, pelo que irei vê-lo muito brevemente). Optei por começar com o Bonnie & Clyde do Arthur Penn.

O filme retrata os últimos anos do famoso casal de ladrões, desde o momento em que se conheceram até à sua morte, passando pela organização de um grupo que ficou conhecido como The Barrow Gang. Bonnie and Clyde é um marco na história do cinema, cuja influência se repercutou e moldou profundamente a forma de se fazerem filmes na América do Norte. Abrindo as portas da violência no mundo do cinema mainstream, é possível dizer que muitos filmes não seriam o que são, caso Bonnie and Clyde não tivesse existido (The Godfather, I’m looking at you, eheh).

Continuando,  o filme tem bastantes pontos positivos: A realização é extremamente sólida, os desempenhos dos 5 actores que constituem o Gang Barrow são excelentes (todos eles foram nomeados para os Óscares, onde Estelle Parsons foi a única que saiu vitoriosa), a fotografia capta a essência do Sul e do Midwest americanos e a montagem torna o filme bastante fluído. Se eu tivesse que apontar o ponto fraco do filme seria a banda sonora: Acho que a inclusão dela em certas cenas corta o impacto que as mesmas pretendem reflectir, e a imagem que ela me transmite é a de um hillbilly a tocar banjo com os pés, o que não é propriamente a imagem mais agradável de se ter. Contudo, a banda sonora reflecte a cultura da zona e da altura, estando em consonância com os temas do filme, logo, não consigo ficar chateado com ela.



“We rob banks.”


terça-feira, 24 de agosto de 2010

Terror: The State of the Art

França. Baguettes, Torre Eiffel, Champagne, Disneyland e Terror. Terror? Sim, terror. Contrariando o que se tem vindo a fazer no outro lado do Atlântico, onde os EUA se ocupam a fazer remakes de filmes de terror asiáticos bem como dos seus próprios clássicos de Terror, a França tem vindo a produzir filmes que pura e simplesmente rompem todos os limites. A chamada New Wave of French Horror, caracterizada por uma intensidade e uma violência brutal, tem vindo a revolucionar o panorama actual deste género.

Numa altura em que cada filme é simplesmente mais brutal que o anterior, os franceses estão a tomar conta do género, mantendo-o constantemente interessante.

Gostaria ainda de realçar que não me considero o maior fã deste género de filmes, mas reconheço que quando um filme de terror é excelentemente executado, consegue suscitar uma panóplia de emoções nos seus espectadores de uma forma que, provavelmente, não se consegue noutros géneros.

Falando no que se tem feito nos EUA, creio que o primeiro filme da saga Saw foi o último filme de terror americano que considerei bom. O mesmo não posso dizer das suas sequelas. Aborrecem-me. A fórmula é sempre a mesma, e sinceramente, não consigo distinguir o Saw 2 do Saw 3, do 4, do 5, e por aí adiante. E acho que é nesse ponto que a França se distingue fortemente. Apesar dos seus filmes apresentarem bastante gore, à semelhança daquilo que se observa na já referida saga Saw e em filmes como o Hostel, os filmes franceses apresentam ainda fortes personagens que são bem caracterizadas e interpretadas – algo, que a meu ver, falha completamente nos filmes americanos.

Falando agora nalguns títulos franceses que têm evocado a tensão que se fez sentir no pináculo deste género (que ocorreu, diria, nos anos 70, em que filmes como o Texas Chain Saw Massacre, Halloween e The Exorcist espalhavam o medo um pouco por todo o mundo) destaco os seguintes:
 

Haute Tension (Aja, 2003) – Uma verdadeira montanha russa de emoções. A premissa do filme não é algo propriamente de inovador – Duas amigas vão para uma casa de campo isolada para estudar para os exames, e nessa altura, surge um misterioso serial killer que torna a estadia num verdadeiro inferno. Contudo, a montagem do filme exerce uma grande influência na criação de um clima de suspense tornando-o bombástico. A montagem, aliada a uma banda sonora que assenta o filme como uma luva (adoro a inclusão da música New Born dos Muse numa das cenas que considero como mais empolgantes) tornam a experiência altamente dinâmica. O filme é também um exercício interessante em termos de narrativa – a abordagem convencional de conceitos como a própria narrativa e identidade são aqui questionados através do seu twist. É o meu preferido desta nova New Wave.


À L’intérieur (Maury & Bastillo, 2007) – Um slasher que conta a história de uma mulher grávida (Sarah) que se vê envolvida num acidente de viação. Na véspera de Natal (véspera também do nascimento do seu filho) Sarah é abordada, na sua própria casa, por uma desconhecida mulher que, aparentemente, sabe mais sobre Sarah do que aquilo que devia. Neste filme destaco a fotografia: Existem inúmeras cenas que estão muitíssimo bem iluminadas e filmadas, mantendo um tom sinistro durante todo o filme – desde a cena em que nos apercebemos que a desconhecida está dentro de casa e vai lentamente desaparecendo na escuridão da casa até à última imagem do filme. O filme é constantemente marcado por um grande negativismo, sendo que a última imagem do filme é algo extremamente pessimista, na minha opinião. Contudo, o argumento padece de alguns grandes problemas. Com as reviravoltas que mostra, o argumento tende a pender para o campo do ridículo, o que se traduz numa redução do realismo que o filme pretendesse mostrar. De qualquer forma, após verem este filme, duvido que irão olhar para uma tesoura da mesma forma que olhavam antes.

Martyrs (Laugier, 2008) – É um filme muito forte, e não é propriamente aconselhável a quem tenha estômagos fracos. Tendo sido o primeiro filme francês a receber uma classificação de 18+ (proíbido a todas as pessoas com menos de 18 anos), levantou-se uma grande polémica em redor do mesmo. O seu conteúdo, efectivamente, não pede por uma classificação mais benevolente, contudo, através de diversos apelos o filme conseguiu baixar a sua classificação, para maiores de 16.

           
  A História: O filme começa com imagens de uma jovem rapariga (Lucie) a fugir de uma espécie de armazém abandonado, onde foi sujeita a tortura durante um longo período de tempo. Flashforward 15 anos, e vemos uma feliz família a desfrutar do seu pequeno almoço, sendo interrompidos por alguém que bate à porta. Lucie entra de rompante por dentro da casa, matando a família toda, afirmando que os adultos da mesma foram as pessoas que a torturam quando era criança. Lucie telefona à sua melhor amiga, Anna, para a ajudar a limpar a cena do crime. Desenrola-se o drama, mais acontecimentos infelizes ocorrem, até ao meio do filme, sensivelmente. O que parecia ser um filme que se inseria na categoria de slasher sofre uma rotação de 180º passando agora a assumir uma natureza bem mais obscura. Na sequência do filme, Anna vê-se nas mãos de uma organização religiosa extremista que tem como objectivo tornar jovens raparigas em mártires – neste contexto, um mártir é alguém que testemunha, que observa – com o intuito de descobrirem o que acontece após a morte de uma pessoa. Essa organização acredita que, através de um conjunto de actos de tortura sistemáticos, as jovens raparigas conseguem alcançar um estado transcendental que permita ver o mundo do além, derivado de uma dor extrema. Desta forma, a segunda parte do filme é extremamente difícil de se ver, e creio que é a principal razão pela qual o filme obteve incialmente uma classificação de 18+. A personagem principal do filme, Anna (muito bem desempenhada pela actriz Morjana Alaoui), é forte e bastante bem escrita. No meio daquele caos e desespero todo, ela é a única personagem que incute ao filme uma espécie de humanidade.

De qualquer forma, o terror que vem de França tem vindo a ser considerado como o estado da arte do género. Mas onde se estabelecem os limites? Ou simplesmente não existem limites morais no que concerne à criação de arte e sua distribuição? Depois do Martyrs, estou para ver até onde vão os franceses nesta sua onda.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Looking Back At 2007.

2007 foi um grande ano para filmes. E quando digo que foi um grande, é porque foi mesmo. A qualidade dos filmes lançados entre Janeiro e Dezembro de 2007 foi exepcional e muitos consideram-no como sendo o melhor ano da década, cinematicamente falando. E eu partilho essa mesma opinião. Cá estão os meus 10 filmes preferidos desse ano.

Just missed the cut: No Country For Old Men; Evangelion 1.0: You Are (Not) Alone; Eastern Promises; El Orfanato; 2 Days in Paris.

#10
Planet Terror - Dir. Robert Rodriguez

#9
Lars and the Real Girl - Dir. Craig Gillespie

#8
  Gone Baby Gone - Dir. Ben Affleck

#7
Rescue Dawn - Dir. Werner Herzog

#6
There Will Be Blood - Dir. P.T. Anderson

#5
Tropa de Elite - Dir. José Padilha

#4
Ratatouille - Dir. Brad Bird

#3
Atonement - Dir. Joe Wright

#2
[Rec] - Dirs. Jaume Balagueró & Paco Plaza

#1
The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford - Dir. Andrew Dominik


Aqui estão os meus 10 eleitos. Aceitam-se todas as críticas, comentários e recomendações. 

Quais são os teus 10 do ano?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Mulholland Drive (2001, David Lynch)

*o post tem spoilers*


Tendo sido desenvolvido originalmente como um pilot para uma possível série televisiva, Mulholland Drive foi rejeitado. Face a este acontecimento, o seu realizador optou por reunir os fundos necessários que o permitissem desenvolver o filme com o intuito de ser exibido nas salas de cinema. David Lynch fez, decididamente, a escolha acertada, pois o filme obteve uma recepção crítica excelente, valeu-lhe uma nomeação para Melhor Realizador, e mais recentemente, Mulholland Drive foi ainda nomeado como o melhor filme da década (2000-2009) por uma grande variedade de críticos.

Sendo notório pelo facto dos seus filmes mergulharem frequentemente nas temáticas do surrealismo e de explorarem o mundo do subconsciente, David Lynch manteve a sua expressão de marca e continuou a explorar esses mesmos temas neste filme, aperfeiçoando a sua técnica.

Breve Síntese: Diane (Naomi Watts) muda-se para Los Angeles com o objectivo de perseguir uma carreira como actriz, após ter vencido um concurso de dança. Numa audição Diane apaixona-se por outra actriz, Camilla (Laura Harring). Uma vez que Camilla mantém relações tanto com homens, como com mulheres, os ciúmes começam a apoderar-se de Diane. Durante as filmagens de uma cena de um filme que conta com a participação de ambas as actrizes, Diane apercebe-se da cúmplice relação que Camilla tem com Adam (Justin Theroux), o realizador do filme. Posteriormente, numa festa privada, Camilla e Adam anunciam o seu casamento, o que cega Diane com raiva. Neste estado, Diane contrata um hitman para assassinar Camilla por todo o sofrimento que esta lhe tem causado. A solidão instala-se na vida de Diane, assolando-a, fazendo com que imirja num mundo de fantasia, num sonho, onde tudo acontece da forma que Diane sempre quis. Quando desperta, a culpa derivada dos seus actos consome-a levando-a ao suicídio.


A narrativa do filme não segue uma estrutura tradicional, onde o príncipio, o meio e o fim surgem como ordem natural. A sua não-linearidade confere ao filme um elevado grau de complexidade que requer um enorme grau de atenção por parte do espectador. No final de contas, o filme é um puzzle. Contudo, o grande nível de atenção ao detalhe que o realizador injecta no filme, e o forte simbolismo subjacente às diversas cenas que o compõem dão-lhe um carácter portador de uma grande originalidade.
É um filme sedutor. A fotografia é excepcional e fulcral para a criação de um ambiente misteriosamente sensual. A banda sonora está também em consonância com as temáticas que são exploradas no filme, para além de que desempenha um papel fundamental numa das cenas chave do filme (cena do Club Silencio. O uso do som nesta cena é de uma importância tal que ajuda o espectador a perceber o que está a acontecer).

E não poderia falar deste filme sem mencionar a extraordinária interpretação da Naomi Watts. O Mulholland Drive foi o filme que a catapultou para as luzes da ribalta em 2001, e que lhe abriu as portas necessárias para assegurar uma carreira estável em Hollywood (dois anos depois, Naomi Watts estaria a receber a sua única nomeação para os Óscares até à data, pelo filme 21 Grams). Aqui, Naomi Watts demonstra todo o seu talento interpretando duas personagens que são o oposto uma da outra, de uma forma extremamente natural e credível. Por um lado temos Betty (a personagem do "sonho") – eternamente optimista, determinada, humilde, talentosa, e nobre. No outro lado do espectro temos Diane (a personagem da "vida real") – vingativa, extremamente pessimista, derrotista, sem grande talento e patética. A forma de como a Naomi Watts efectua esta transformação de 180º de maneira tão convincente e precisa é algo  admirável. É, na minha humilde opinião, a melhor interpretação que já alguma vez vi num filme.

Concluindo, ver (preferencialmente, com uma mente aberta) o Mulholland Drive é uma verdadeira viagem ao mundo do subconsciente, que trabalha na razão e na emoção dos seus espectadores. Altamente recomendado.

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Bem-vindos!

Impelido pela minha forte paixão pelo cinema optei por deixar o lugar de leitor apenas, e decidi aventurar-me na blogosfera, adoptando uma posição mais proactiva: A criação deste blog passa, então, pelo prazer que retiro apartir da 7ª arte e pela vontade de o partilhar com todos vós!

Irei falar de alguns filmes - abrangendo o cinema da chamada golden age de Hollywood até aos anos mais recentes -, de alguns dos meus realizadores e actores preferidos, bem como dos aspectos técnicos que tornam um filme único.

Participem!
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